terça-feira, 31 de março de 2009

Porque sofro do "complexo Costeau"

[...] Mas analisando um pouco mais fundo, alguma coisa nos faz diferentes. Nascemos com os olhos acostumados ao azul das águas. Temos um corpo que anseia pelo braço do mar e um pulmão que aceita grandes privações de ar apenas para prolongar a nossa vida no mundo azul.

Somos homens e mulheres de espírito inquieto. Buscamos na nossa vida mais do que nos foi dado. Passamos por grandes provas para nos aproximarmos dos peixes. Transformamos os nossos pés em grandes barbatanas, seguramos o calor do nosso corpo com peles falsas e chegamos até a levar um novo pulmão às nossas costas. E tudo isto para quê? Para podermos satisfazer uma paixão, um sonho. Porque nós, algum dia, de alguma forma, fomos apresentados a um mundo novo. Um mundo de silêncio, calma, mistério, respeito e amizade. E esta calma e silêncio nos fizeram esquecer a confusão e agitação do nosso mundo natal. O mistério envolveu o nosso coração sedento de aventura.
[...]

Jacques Yves Cousteau



quinta-feira, 26 de março de 2009

Regresso às origens

Este fim de semana tirei uma folga da minha vida. Peguei na 4L e segui sozinho até à Zambujeira do Mar. Fora do Verão (especialmente fora da época do Sudoeste) a Zambujeira é um vilarejo muito calmo. Pouca gente nas ruas, poucos carros, pouca confusão. E depois... o mar enorme que recorta a costa criando falésias de uma imponência difícil de descrever... Era mesmo daquilo que eu estava a precisar.

Curiosamente, foi na Zambujeira que vivi os primeiros meses da minha vida (acho que a passagem deste "paraíso" para a Buraca é capaz de justificar toda a minha impureza), logo esta fuga acabou por ser um "regresso às origens". Numa fase da minha vida em que me tento reconstruir, faz sentido que passe pela "casa de partida", torne às raízes... Ainda para mais se estas são num local tranquilo junto ao oceano.

Instalei-me numa residencial manhosa, desliguei os telemóveis e pus a mochila às costas, carregando uma garrafa de água, a minha velhinha Pentax, o caderno e uma bíblia. De boné na cabeça percorri quilómetros junto ao mar. Deu para reflectir e rezar um pouco, para me aproximar um pouco mais de Deus... e de mim próprio.

Regressei à vida sem ter tomado nenhuma grande decisão, sem ter resolvido nenhum dos meus problemas, sem ter tido nenhuma epifania extraordinária. Mas regressei mais eu, e isso já é uma vitória.

sábado, 21 de março de 2009

Cais do Sodré


(Este post não tem nada a ver com os outros... espaço às minhas pretensões de escrita)

-O Cais do Sodré é feio.

Pois é, mas a conversa também não seria bonita. Era o sítio indicado.

Local de movimento perpétuo, centenas de pessoas chegavam e partiam num ritmo acelerado. Barco, metro, comboio, táxi, eléctrico, autocarro. Lisboa confluía naquele espaço à beira Tejo estupidamente subaproveitado.

Sentaram-se no café, trocaram as palavras esperadas. Não foi novidade para ele, não foi novidade para ela... Antes uma formalidade. Ela precisava de limpar a consciência e ele precisava de escrever o último ponto final.

Meia hora, nunca um café entre eles durara tão pouco. Ritmo acelerado, como tudo em volta.

Despedida breve e cada um seguiu o seu caminho. Ela em direcção do mar e do sol, ele descendo, cabisbaixo, em busca do metro que o levaria de volta à realidade.

Cais de embarque e desembarque. Cais de passagem, de encontros, de desencontros. Cais de despedida.
Cais do Sodré.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Conversa de Barbearia


Há uns dias ouvi um frade franciscano utilizar a expressão "conversas de barbearia" para representar diálogos de cariz mais... ordinário. E é uma excelente denominação, embora não concorde com o tom reprovador utilizado pelo frade.

A verdade é que, por serem locais de reunião quase exclusivamente masculina, as barbearias serão sempre espaços privilegiados para conversas de tom menos decoroso. E, como é fácil adivinhar, vou partilhar convosco uma dessas conversas.

Toda a acção se desenrola numa barbearia de bairro. Espaço pequeno, com 3 cadeiras de barbeiro em frente aos espelhos e bancadas do material de "tosquia". Dois pequenos sofás junto ao balcão, uma pequena mesa com os desportivos do dia e uma estatueta de uma águia completam o cenário.

Actores... 3 barbeiros, o mais novo quarentão, o mais velho com mais de 60 e um intenso cheiro a álcool a partir das seis da tarde. Dois ou três clientes e dois "visitantes" que, sentados nos sofás, vão lendo os desportivos e metendo conversa com quem entra.

E lá estava eu... Confortavelmente sentado, paninho à volta do pescoço, navalha a roçar a pele.

Discutia-se futebol, o domínio do Porto graças ao Pinto da Costa e a injustiça dos árbitros para com o """glorioso"""... Até que entrou o Vitó (nome fictício).

Rapazito do bairro com trinta e muitos e ar de pintas, cumprimentou toda a gente efusivamente e entrou logo na conversa, com o típico discurso do manhoso que quer (e consegue) agradar a gregos e troianos. Depois de se "introduzir" começou a falar do seu negócio. Aparentemente o Vitó ganha a vida a vender produtos que melhoram o desempenho sexual masculino e, mais que cortar o cabelo (que até estava curtinho), parece-me que foi tentar angariar clientes.

-Vim aqui deixar uma caixa p'ró Manel. Parece que agora arranjou uma brasileira e tem de o ter levantado senão ela vai sambar p'ra outro lado.

-Mas isso funciona mesmo?

-Então não funciona? Não funciona... olha este! Oh amigo, você toma um destes e é um ver se te avias. 72 horas a f****! Ela até vai levantar bandeira branca, a pedir rendição que já não aguenta as dores na c***.

-Então mas tu já experimentaste isso?

-Eu não preciso disso! Mas tomo de vez em quando... é giro, que isto dá-te uma tesão que meu Deus do céu. É uma festa...

-Ah, aqui ninguém precisa!

-Isto é só velhos... Não precisam... Estão é com vergonha... Oh amigo, vergonha é querer f**** e não conseguir. Isto não faz mal a ninguém, não é como o Viagra que dá cabo do coração. Não tem contra-indicações nenhumas. A única recomendação é que se tenha uma mulher ao pé... senão vai ser bater à p****** até ter cãibras no braço! Porque isto levanta e não desce!

Eu não conseguia parar de rir, mas a verdade é que o Vitó conseguiu deixar o seu contacto a uns quantos "seniors", certamente interessados em melhorar a sua performance amorosa...

-Vai ver Ti Manel, não se vai arrepender... A D. Maria vai andar com um sorriso nos lábios...

-Hehehe, obrigado Vitó, obrigado!

sábado, 14 de março de 2009

Abre a porta Tânia!

Para quem acha que a música africana não passa de uns kuduros incompreensíveis...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Devia ter sido eu a escrever isto...

"Como dizer não? Esta sua iniciativa era tão excepcional. Ao desligar, lancei para as minhas folhas que continuavam brancas um olhar de jubilante desolação, o olhar hipócrita do cábula que se lamenta ter sido perturbado no momento em que começava o seu trabalho, ao mesmo tempo que dá covardemente graças aos céus por essa providencial diversão."
Amin Malouf, "O Século Primeiro Depois de Beatriz"

Fico mesmo "encantado" quando me leio nas palavras dos outros.