terça-feira, 6 de maio de 2008

Sentido

Hoje dei por mim a pensar (acto raro, é certo) em algo que me parece digno de referência e que, portanto, devo partilhar com qualquer parvo que venha dar a este fim de internet.

O autocarro nem ia muito cheio, mas o trânsito na 2ª circular formava uma fila interminável. Sem miúdas giras para contemplar, vi-me obrigado a fazer uso da tão propalada racionalidade humana para passar o tempo.

Claro que não há nada melhor para filosofar às 9h da manhã, minutos antes de um exame, do que o Sentido da Vida.

Como biólogo, posso dizer (correndo o risco de ser controverso) que o "objectivo" comum a todas as espécies é a passagem de material genético à geração seguinte, que é como quem diz reproduzirem-se.

Mas não sei porquê, isso não me basta. Preferiria, sem dúvida, saber que esse era o único objectivo da vida humana, que me bastava deixar uns quantos descendentes em condições para cumprir "the ultimate purpose". Quer o conseguisse fazer ou não, já saberia que rumo tomar.

Claro que o homem é um animal superior (sim, apetece-me ser um chauvinista antropocêntrico), dotado de razão, que não pode ter as mesmas limitações que os outros seres do planeta.
Procuramos então a felicidade.

Mas onde é que anda esse bicho? É uma pergunta pertinente. Alguém conhece alguém que seja feliz, na verdadeira e plena acepção da palavra? Não alguém que esteja feliz, isso é comum (embora cada vez menos). Falo de alguém que viva plenamente certo do caminho que escolheu e que, independentemente das adversidades da vida é, intrinsecamente, feliz. Não me parece que haja muita gente assim.
O que é estranho.

Parece-me que se perguntarmos a 20 pessoas aleatoriamente seleccionadas o que mais desejam na vida 18 dirão ser feliz, uma conhecer o Mickael Carreira e o bêbedo ver o Benfica Campeão Europeu. Atrevo-me a dizer que 90% das pessoas assume a felicidade como o objectivo de uma vida. Contudo, pessoas plenamente felizes, não abundam. Porquê?

Acredito que todo o ser humano tem a possibilidade de ser feliz. Como cristão, devo ter até essa premissa, afinal o Reino de Deus (não a seita, o conceito) é aqui e agora. Acredito também que a forma de alcançar essa felicidade vai variar de pessoa para pessoa, mas passará sempre por uma realização também ao nível espiritual. Não quero com isto dizer que só a religião traz felicidade, nada disso. Mas acho que a pessoa, para ser verdadeiramente feliz, deve conseguir ir ao âmago de si própria, de perceber realmente os seus dons e as suas falhas, os seus medos e os seus desejos, sem medo de, no caminho, descobrir algo... maior.

Entretanto olhei pela janela e vi uma loira lindíssima fora do autocarro. Feliz coincidência, já estava a chegar à minha paragem. No tempo entre carregar no stop e sair, cheguei a uma (pouco) brilhante conclusão: mais valia ter nascido coelho.

Nenhum comentário: