Palavra do dia: Utopia

Há dias em que uma palavra se destaca. Podemos tê-la constantemente presente, mas nunca damos por ela até ao dia em que resolve revelar, qual epifania. Hoje, revelou-se-me (expressão bonita) a palavra Utopia.

Utopia... Nome de uma ilha fictícia que serve de título à narrativa que conta a sua história, escrita por Thomas More. Ilha onde vivia uma sociedade mais que perfeita, uma sociedade... utópica. A palavra, inventada por More, deriva de uma conjugação de palavras gregas que significa algo como "não-local", ou seja, o próprio autor assume que é algo demasiado idealista para poder existir.

(Mas não é o idealismo que, tantas vezes, move a humanidade?)

Hoje, esta palavra atingiu-me com toda a sua força. Num muro velho, num dos bairros antigos de Lisboa, alguém escreveu a expressão "utopia no olhar". Provavelmente, foi alguém ligeiramente lunático que pegou numa lata de spray e resolveu dar um toque filosófico a um mural de tags (as "assinaturas", não o tarifário Optimus) e juras de amor eterno. Passo por esse muro todos os dias e só hoje reparei nessa expressão que me ficou a martelar na cabeça e deixou duas questões... A primeira foi algo como "que raio é que isto quer dizer?" e a segunda foi do tipo "mas porque é que esta frase mexe tanto comigo?". Escusado será dizer que quando consegui responder à primeira pergunta, a segunda perdeu razão de ser...

Utopia no olhar... interpreto isso como o olhar carregado de sonho, a certeza de que o mundo não é um local tão mau assim, de que a vida até pode ser algo maravilhoso... a expectativa de que o futuro pode ser bom. É o olhar dos que sabem encontrar o verdadeiro sentido para o ser, dos que vêem para além das dificuldades do presente e confiam na felicidade que o amanhã trará.

Porque é que essa frase mexeu tanto comigo? Porque eu já levei a utopia no olhar, mas perdi-a algures.

Enquanto tento perceber se valerá a pena procurá-la novamente, esta é a música que vai servindo de banda sonora...