A última delas ocorreu há alguns dias atrás e teve um cariz... musical. Passo a contá-la.

Eram 10h00 da manhã e cantava-se o fado no autocarro.
"Que chega ao coração num tom magoado, tão frio como as neves do caminho"
O que poderia ser uma atracção num dos autocarros turísticos da cidade, ganhava contornos de aberração entre os trabalhadores mal pagos e os estudantes que, com diferentes graus de depressão, faziam o seu percurso diário em direcção à rotina.
Mas a artista não se cansava. Aluna de uma escola secundária, a faltar a uma qualquer aula de substituição, continuava a exibir todo o seu reportório de Amália Rodrigues numa voz que, não sendo desafinada, era pouco agradável aos ouvidos. As colegas, entusiasmadas, rodeavam-na, incentivavam-na e aplaudiam-na.
Um senhor reformado, de cabelos brancos cobertos por uma boina acastanhada, tentava ir acompanhando a música, de olhos fechados e esboçando um sorriso, sonhando a Alfama, as sardinhas e as mulheres de outros tempos.
Mas o autocarro chegou à paragem do Colombo e as moças saíram, empenhadas em passar os 90 minutos de intervalo num local capaz de preencher as suas adolescentes necessidades. O velho, esse, agradeceu à cantora de serviço e, num gesto triste de quem se abandona ao seu próprio fado, sentou-se de novo na cadeira.
E foi isto... A banda sonora deste momento? Só pode ser uma...
2 comentários:
Isto lembra-me qualquer coisa... :P
Não está esquecido, não senhora ;)
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